quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

As Palavras interditas


Os navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Always

Para ti....


" Se me apagares os olhos, ainda te posso ver.
Tapa-me os ouvidos: ainda consigo ouvir-te.
E sem pés, consigo chegar até ao pé de ti.
E sem boca, sei ainda invocar-te.
Arranca-me os braços: eu abraço-te
Com o meu coração como se fosse uma mão.
Para-me o coração e o meu cérebro baterá.
E se me pegares fogo ao cérebro,
Vou levar-te no meu sangue. "
( Rainer Maria Rike )