
.... com a derrota nos oitavos de final com a selecção espanhola. Foi só um golo mas foi mais que suficiente..... Foi o adeus da nossa selecção do Mundial de Futebol 2010 em África de Sul.....
Tanto te quis, em vão,
Tanto te esperei, te chamei e não viestes.
Foi tanta a demora que nosso tempo se esgotou.
Chegou a hora do adeus.
Que os amigos se separem,
Que toda a esperança se desfaça,
Que todos os sonhos se desmanchem,
Que todos os nós se façam na garganta,
Que toda a tristeza do mundo corte, bem fundo,
Que toda a saudade se faça irremediável,
Que todo o chorar se torne inconsolável.
Tanto te quis, em vão,
Tanto te esperei, te chamei e não viestes.
Foi tanta a demora que nosso tempo se esgotou.
Que teus olhos se fechem na minha alma,
Que tua voz se torne muda aos meus ouvidos,
Que teu nome se cale em minha boca,
Adeus.
Se eu conseguir te esquecer....
Adeus
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade