sexta-feira, 15 de abril de 2016

Respiro o teu corpo.....



"Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca." - Eugénio de Andrade

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Porque hoje é o Dia do Beijo......


"Já experimentei mil beijos.
Beijos esperados por anos.
Beijos inusitados,
Beijos roubados,
Beijo e beijos...
Beijo molhado, beijo apaixonado, beijo de esperança,
beijo de insegurança
beijo de saudade
beijo de ansiedade
beijo de risada
beijo por beijo...
Mas não tem beijo melhor do que o de amor
O beijo que mistura tudo.
Amor, paixão, ternura...
Que as vezes rola do nada, as vezes é só imaginado..
Que acontece para acalmar, para proteger
para matar a vontade de ter...
Beijo assim, como esquecer?"

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Amo-te Por Todas as Razões e Mais Uma


"Por todas as razões e mais uma. Esta é a resposta que costumo dar-te quando me perguntas por que razão te amo. Porque nunca existe apenas uma razão para amar alguém. Porque não pode haver nem há só uma razão para te amar.
Amo-te porque me fascinas e porque me libertas e porque fazes sentir-me bem. E porque me surpreendes e porque me sufocas e porque enches ...
a minha alma de mar e o meu espírito de sol e o meu corpo de fadiga. E porque me confundes e porque me enfureces e porque me iluminas e porque me deslumbras.
Amo-te porque quero amar-te e porque tenho necessidade de te amar e porque amar-te é uma aventura. Amo-te porque sim mas também porque não e, quem sabe, porque talvez. E por todas as razões que sei e pelas que não sei e por aquelas que nunca virei a conhecer. E porque te conheço e porque me conheço. E porque te adivinho. Estas são todas as razões.
Mas há mais uma: porque não pode existir outra como tu."

Joaquim Pessoa

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Meu demónio favorito.....


Escrevo-te para te dizer que estimo bem que tu te fodas.
Quem consegue amar em duplicado não ama ninguém. Quem consegue dividir o amor não merece que me multiplique em nome dele.
Ou se ama tudo ou é uma merda de nada...

Dizes que há que perceber o amor para perceber o que amas. E eu não percebo. O que se ama, lê com atenção, não se percebe – é essa, provavelmente, a grande dificuldade de entendimento entre nós. Tu queres que eu perceba o que só se sente e eu quero que tu sintas o que só consegues perceber.
Quando se ama com a cabeça não se ama coisa nenhuma.
Há uma outra mulher no teu caminho, uma outra mulher a resgatar os teus braços. Pedes que compreenda, pedes que entenda que há que ser altruísta para pode armar.
E eu estimo bem que tu te fodas.
Não sei para que existe a palavra egoísmo se já existe a palavra amor.
Amar é singular. Singular. Lê bem: singular. Único. Só um. Só aquele. Só o que ocupa tudo e não deixa nem um fiozinho de fora, nem uma migalhinha à vista. Fiz-te singular e fizeste-me plural. É isso o que nos separa. É uma questão de gramática, de matemática, até. Mas até o amor merece que todas as contas sejam feitas. E no final o resultado de eu + tu é eu sem nada. Eu dolorosamente e ainda assim orgulhosamente sem nada.
Antes mulher solitária do que totó solidária.
Não te partilho com ninguém. Não me partilho com ninguém. Quando sou, sou por inteiro, quando sou, sou eu inteira no que me vem inteiro. E tantas vezes já te disse nunca e depois voltaste e eu voltei. Não me considero fraca por ainda acreditar que voltas, que voltarás mais uma vez, com esse olhar que me despe do mundo e me dá a vida. E quando voltares vais dizer «vem, que hás só tu». E tudo o que peço, tudo o que desde sempre te peço, é isso: que haja só eu. Que seja só eu. «Vem, hás só tu», dirias, e todo o meu corpo se abriria para te deixar entrar, e o abraço aconteceria e todos os sofrimentos fariam sentido.
Amar é saber que até os sofrimentos podem fazer sentido.
Não voltaste. Ainda não voltaste. E parece que desta vez foi de vez. Estarás vendido entre os outros braços das outras mulheres que te aceitam em pedaços. E eu aqui estou, em pedaços mas inteira, à espera de que percebas que isto que nos une é um privilégio tão grande que tem de exigir exclusividade. Se não voltares, não te preocupes comigo. Vou continuar a mesma apaixonada de sempre no lugar de sempre, à espera do homem de sempre. Até que chegue, lentamente, alguém que me ensine a desprogramar-te de mim, a diluir tudo o que tenho de ti por dentro do que me sustém. Até lá serei tua e ninguém terá sequer o direito de me olhar em pleno. É essa a minha decisão final. Mas depois da minha decisão final vem a tua. A decisão é tua. Sempre tua.
Ou vens já, ou recuso-te para sempre.

P.S.: Estimo bem que tu te fodas.
E amo-te.



 

segunda-feira, 3 de março de 2014

Comecei a amar-te no dia em que te abandonei.....


Comecei a amar-te no dia em que te abandonei.

Foram as palavras dele quando, dez anos depois, a encontrou por mero acaso no café. Ela sorriu, disse-lhe “olá, amo-te” mas os lábios só disseram “olá, está tudo bem?”. Ficaram horas a conversar, até que ele, nestas coisas era sempre ele a perder a vergonha por mais vergonha que tivesse naquilo que tinha feito (como é que fui deixar-te? como fui tão imbecil ao ponto de não perceber que estava em ti tudo o que queria?), lhe disse com toda a naturalidade do mundo que queria levá-la para a cama. Ela primeiro pensou em esbofeteá-lo e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, de seguida pensou em fugir dali e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, e finalmente resolveu não dizer nada e, lentamente, a esconder as lágrimas por dentro dos olhos, abandonou-o da mesma maneira que ele a abandonara uma década antes. Não era uma vingança nem sequer um castigo – apenas percebeu que estava tão perdida dentro do que sentia que tinha de ir para longe dali para ir para dentro de si. Pensou que provavelmente foi isso o que lhe aconteceu naquele dia longínquo em que a deixara, sozinha e esparramada de dor, no chão, para nunca mais voltar.

De tudo o que amo és tu o que mais me apaixona.

Foram as palavras dela, poucos minutos depois, quando ele, teimoso, a seguiu até ao fundo da rua em hora de ponta. Estavam frente a frente, toda a gente a passar sem perceber que ali se decidia o futuro do mundo. Ele disse: “casei-me com outra para te poder amar em paz”. Ela disse: “casei-me com outro para que houvesse um ruído que te calasse em mim”. Na verdade nem um nem outro disseram nada disso porque nem um nem outro eram poetas. Mas o que as palavras de um (“amo-te como um louco”) e as palavras de outro (“amo-te como uma louca”) disseram foi isso mesmo. A rua parou, então, diante do abraço deles.


Pedro Chagas Freitas

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O beijo mata o desejo


Não te beijo e tenho ensejo 
Para um beijo te roubar; 
O beijo mata o desejo
E eu quero-te desejar.

Porque te amo de verdade,
'stou louco por dar-te um beijo,
Mas contra a tua vontade
Não te beijo e tenho ensejo.

Sabendo que deves ter
Milhões deles p'ra me dar,
Teria que enlouquecer
Para um beijo te roubar.

E como em teus lábios puros,
Guardas tudo quanto almejo,
Doutros desejos futuros
O beijo mata o desejo.

Roubando um, mil te daria;
O que não posso é jurar
Que não te aborreceria,
E eu quero-te desejar! 


António Aleixo

Sete Letras


Esta palavra Saudade
Sete letras de ternura
Sete letras de ansiedade 
E outras tantas de aventura

Esta palavra saudade
A mais bela e a mais pura
Sete letras de verdade
E outras tantas, de loucura

Sete pedras, sete cardos
Sete facas e punhais
Sete beijos que são dados
Sete pecados mortais

Esta palavra saudade
Dói no corpo devagar
Quando a gente se levanta,
fica na cama a chorar

Esta palavra saudade
Sabe a sumo de limão
Tem um travo de amargura,
Que nasceu no coração

Ai palavra amarga e doce
estrangulada na garganta
Palavra com se fosse
o silêncio, que se canta

Meu cavalo imenso e louco
a galopar na distância
Entre o muito e entre o pouco,
que me afasta da infância

Esta palavra saudade
é a mais prenha de pranto,
como um filho que nascesse
Por termos sofrido tanto

Por termos sofrido tanto
É que a saudade está viva
São sete letras de encanto
Sete letras por enquanto,

Enquanto a gente for viva

Esta palavra saudade
sabe ao gosto das amoras
Cada vez que tu não vens,
cada vez que tu demoras

Ai palavra amarga e doce,
debruçada na idade
Palavra como se fossemos
resto de mocidade

Marcada por sete letras
a ferro e a fogo no tempo
Ai, palavra dos poetas
que a disparam contra o vento

Esta palavra saudade
dói no corpo devagar
Quando a gente se levanta
fica na cama a chorar

Por termos sofrido tanto
É que a saudade está viva
São sete letras de encanto
Sete letras por enquanto,

Enquanto a gente for viva

Ary dos Santos