quarta-feira, 26 de maio de 2010

"As saudades não são como o clima "


"Decididamente, as saudades não são como o clima. Quando está calor, não conseguimos imaginar como era quando tínhamos frio. Nem prever o que sentiremos novamente quando os termómetros baixarem. Da mesma maneira, temos dificuldade em imaginar o que é ter calor ao tiritarmos de frio na paragem do autocarro.

Mas com as saudades é diferente. Conseguimos senti-las por antecipação, quando ainda temos a pessoa à frente, estamos sentadas na cadeira do quarto que vamos deixar ou no banco do jardim que julgamos nunca mais voltar a ver. Sentimos o mesmo nó na garganta, a mesma sensação de que a vida não tem graça sem aquela pessoa ou aquela coisa, e todos os outros sintomas que só os poetas a sério conseguem descrever sem serem pirosos.

Há ainda as saudades "à posteriori ", e possível, até mais esquisitas. Ás vezes, só sentimos saudades da pessoa amada, quando lhe ouvimos a voz, o abraço outra vez, lhe passo a mão pelo cabelo. Ou as saudades que temos lá dentro, mas de que só nos apercebemos quando cheiramos determinado perfume ou cruzamos os olhos com alguém que nos lembra outro alguém.

É estranho, mas as saudades são estranhas. Decididamente, não são como o frio ou o calor. "

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