Contavam as sereias que na tempestade os
seus olhos
os barcos adormeciam tontos, cansados das
marés;
que os seus beijos sabiam a mar e que na
sua pele crestada
pelo sol havia cintilância das ondas
ao meio-dia;
que os seus ombros lembravam promontórios e
que neles
as mulheres deixavam naufragar as mãos e os
lábios;
que uma noite tocara a lua com os seus
dedos mastros
e ouvira uma voz dentro de si, vinda de
muito longe;
que era hábil com as redes, como com as
palavras.
Alguém veio pedir-lhe que abandonasse os
peixes
pelos homens. Em troca, receberia
um templo eterno, uma chave, o privilégio
de decidir
todos os lugares a chuva, um nome novo
para poder negar tudo o que vira antes.
Maria do Rosário Pedreira
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