terça-feira, 2 de março de 2010

" Metades "


"Que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que eu sei
Que a morte de tudo em que acredito, não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que gritei, mas a outra metade é o silêncio
Que a música que ouço ao longe, seja linda ainda que triste
Que o homem que eu amo seja sempre amado mesmo que distante
Porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade
Que as palavras que eu falo, não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo
Que essa minha vontade de ir embora, se transforme na calma e na paz que eu mereço
E que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso, mas a outra metade é um vulcão
Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflicta em meu rosto um doce sorriso que eu me lembre de ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que eu fui, a outra metade eu não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço
Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba e que ninguém a tente complicar
Porque metade de mim é plateia e a outra metade é canção
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor e a outra metade também"

Oswaldo Montenegro

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